Tudo passa e nada se passou!

 


Consegues sentir?

É o tempo.

Já me tinham falado sobre isto. Sempre ignorei porque achava que a vida é um continuum e, nesse sentido, os acontecimentos teriam a importância e o impacto que, no nosso entendimento, deveriam ter.

A nossa existência física, mental e emocional não caminha lado a lado com esta variável contínua. Pensamos sempre que apesar da idade, estamos jovens. Que podemos continuar a fazer o que, noutros tempos, seria feito. Não é por falta de andamento, não é por falta de vivacidade, mas, sim, porque a dada altura, temos de aceitar que existe um espaço que já não deve ser nosso. Não me interpretem mal. Todos podem, devem e, se houver possibilidade, farão o que lhes for mais conveniente.

Começo a pensar num paradoxo geracional. É muito ingrato que esta informação não tenha sido partilhada antes. Até devia ser documentada. Atenção. Isto até pode abrir portas para mim. Posso estar a inventar aqui uma nova teoria da psicologia comportamental. Vou aproveitar o momento e chamar-lhe de Teoria do Desentendimento Pessoal.

Então, existem problemáticas que são comuns a todas as gerações, mas, por algum motivo, nunca existe uma solução que prevaleça num determinado meio ou contexto social. Isto acontece porque não há uma conceptualização pessoal e que esse autoconceito não se encontre contextualizado.

Tendo em conta que a maior parte da construção da nossa identidade está diretamente ligada aos pensamentos e vivências de outros, é comum haver um desentendimento interno que, mediante a capacidade de interpretação, poderá ter efeitos positivos e ou negativos. Estes opostos, aos quais chamarei de regressivo e progressivo, para o negativo e positivo, respetivamente, abrindo espaço para um meio termo que qualificará aqueles que, independentemente do estímulo, não sofrem qualquer alteração comportamental. A este último comportamento chamarei de Inerte. Assim sendo, e esclarecidas todas as definições, importa enquadrar os comportamentos de ação e reação.

As sociedades funcionam porque a maior parte das pessoas que as constituem são de Desentendimento Pessoal Inerte. Evoluem porque existem algumas pessoas progressivas e tendem a estagnar ou a implodir se não for possível controlar as pessoas regressivas. Todos estes fenómenos de Desentendimento Pessoal permitem que haja um determinado status quo e, assim, manter um equilíbrio social.

Contudo, é comum que as pessoas Inertes sejam mais bem-sucedidas nas sociedades onde estão inseridas, comparativamente às regressivas e progressivas. Entendo que haja uma ligação entre a política atual e o deixar ser liderado, permitindo às pessoas que vivem em inércia passar entre os “pingos da chuva” e, assim, desencontram-se das resistências positivas e ou negativas do meio envolvente.

Qualquer um dos dois tipos de pessoas, progressiva e regressiva, tendem a causar impacto num determinado ecossistema social. Torna-se difícil perceber se este impacto é positivo ou negativo. Se por um lado as pessoas progressivas tendem a questionar mais, a pôr em causa a natureza das coisas e dos acontecimentos, por outro, as pessoas regressivas com alguma introversão e negatividade, fazem questionar se os acontecimentos e decisões estão adequados aos contextos e natureza da nossa existência.

Eu vejo com alguma tristeza a postura das pessoas regressivas. Não sou ninguém para colocar em causa a opção/forma de viver de cada qual. Apenas não me revejo em contextos de pura passividade. Observo que este tipo de individuo quer muito fazer muitas coisas, mas não tem capacidade de iniciativa, não tem tomada de decisão. Eles são parasitas da vida. Para agravar o que foi referido, os regressivos sabem que causam impacto e, quando fazem uso deste poder, conseguem pulverizar civilizações inteiras com a grandiosidade da sua estupidez.

Por sua vez, os progressivos têm grande capacidade de iniciativa e tomada de decisão. O problema desta fração de desentendimento pessoal é que estas duas virtudes nem sempre são acompanhadas de conhecimento e reflexão. Devido à forte personalidade progressiva há tendência para haver divergências em grupos com demasiadas pessoas progressivas e, é nesse momento que se dá a rutura entre eles e decidem se continuam progressivos, regressivos ou inertes.

Ferran Soriano, no livro A bola não entra por acaso, defende que na estrutura das organizações deve haver sempre três tipos de pessoas: O Visionário, o Dr. No e o Operário. Neste contexto está patente uma hierarquia, mas o princípio sustenta o que escrevi anteriormente. Precisamos de Pessoas progressivas, para apresentar ideias e evoluir. Precisamos de pessoas regressivas para apresentar problemas e impor constrangimentos e, mais importante que tudo, são necessárias pessoas que coloquem em prática tudo o que foi desencadeado pela ação e reação entre os progressivos e regressivos. Nunca existirão resultados sem operacionalização.

Posto isto, ficam as questões. Quem somos? Onde nos enquadramos? Quem queremos ser? Existe mais para além disto?

Perco-me na imensidão do empirismo e do conhecimento científico relativamente ao comportamentalismo humano. Não há nada que nos diga que iremos sofrer sempre do mesmo desentendimento pessoal. O que eu sei, e experienciei, é que é possível oscilarmos entre estes três tipos de personalidade. É importante perceber a conveniência do momento e, mais importante ainda, perceber se podemos ser constantes ao longo da vida revivendo os momentos de igual forma e de forma cíclica.

Se o tempo, à sua maneira, muda, a nossa vida, inevitavelmente, mudará.

Às vezes penso que este tipo de pensamento, devido à sua complexidade, poderá me levar à loucura. Mas não estarei louco se me recusar a pensar?

 

Sinceramente

Stero

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