A culpa não é tua. Mas é.
Ultimamente tenho procurado o
sentido da vida. Sei que é cliché, mas é realmente o que tenho feito. Sinto-me
um pouco entorpecido por esta forma de marcar presença entre os mortais. Não
tenho sentido a energia para ser, fazer e viver. Tudo o que sou, faço e penso
parece-me desatualizado, desenquadrado, descontextualizado, uma verdadeira
antítese da sociedade atual.
Constato que nós, quando olhamos
para determinadas pessoas, apenas conseguimos ver a sua imagem. Não é aquela
história da beleza interior. Nada disso. Refiro-me às pessoas com quem nos
deparamos e que são uma embalagem vazia. Ou uma embalagem cheia. Quem consegue
adivinhar?
As vivências vão nos torneando a
personalidade e, pelo caminho, ganhamos ou perdemos alguns dos nossos traços. São
estes traços da personalidade que vão enchendo as embalagens ou vão se evaporando
devido à sua volatilidade. Dentro dos recipientes, mais ou menos decorados,
mais ou menos apelativos, vão se acumulando informações e conteúdos que fazem
da embalagem um produto indefinido. Para quem é, para quem quer ser, e para
quem quer perceber.
Andamos num labirinto de acontecimentos
onde o resultado da nossa passagem é confuso e difuso. Não nos preenche nem despeja
a embalagem, mas faz-nos sentir cheios, pesados e cansados. Cheios de Nada. Um Nada
que não leva a lado nenhum pois, devido à qualidade dos acontecimentos e da
informação absorvida, não temos como consequência a aprendizagem e a aquisição
de ferramentas pessoais, sociais e contextuais que nos acrescentem enquanto
coisas uteis num determinado meio.
Eu sou injusto. Eu sei disso. Não posso
estar simplesmente a autoflagelar uma determinada conceção do viver só porque
não encontro sentido em algumas coisas. Entendo que o padrão e a constante são
cómodos. Se toda gente faz é porque está correto. É a verdade convencional. Mas
dentro do convencionalismo não haverá espaço para mudanças, diferenças ou
interferências indesejadas? Não são estas que nos vão acrescentar a base de
dados com informação pertinente, com ferramentas úteis para diferentes
contextos?
Se nos deixamos viver na moda e
aceitamos os termos e condições sem questionar, ficamos sem ferramentas para
ultrapassar diferentes constrangimentos, bons ou maus. Andamos sem dono e sem
sentido. Somos reféns de uma culpa solitária.
Faço um convite à ousadia. Algo que
de certa forma nos mantenha vivos e donos do nosso próprio trajeto dentro do labirinto.
Que tenhamos capacidade de tomar decisões, acerca do sentido e direção a
seguir. Que não sejamos apenas uma imitação da vida, reproduzindo-se vezes sem
conta até que apareça outra tendência ou doutrina que nos faça alterar o nosso percurso.
Não comprem apenas a embalagem, tenham consciência do produto e do conteúdo. Bebam
da vida aquilo que seja entendido como bom individualmente.
A pior questão que existe é: “o que
é que eu fiz de errado”. É simplesmente estupido e irrefletido. Isto demonstra
que não somos donos das nossas decisões e não assumimos as consequências das
nossas ações. É normal estar em sintonia com outras ideias e tomar decisões iguais
a outras anteriormente tomadas, mas, em todas elas deve haver consciência dos
possíveis resultados. A culpa não pode ser uma casualidade e, mesmo que dependamos
de fatores externos, fora do nosso controlo, a culpa é nossa. É de todos, mas é
nossa.
Vivam livres de espírito, soltem as
amarras e sejam a consequência inesperada da vossa própria vida.
Sinceramente
O Idiota
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