A vida não é um reflexo. É uma experiência.

 


Hoje acordei. É sempre bom!

O meu primeiro instinto foi o de comer uma maçã. Aproximei-me da fruteira e pus-me a contemplar toda a panóplia de fruta que lá estava. Penso que foi um processo relativamente célere, nem me recordo muito bem, mas sei que escolhi uma Maçã Golden, bem aparentada e sem marcas de pancadas. Com a maçã nas mãos já parecia os cães de Pavlov a salivar, não resisti e ataquei ferozmente aquele belo espécime frutícola.

A primeira dentada foi um acasalamento interessante, entre o processo de mastigação e o enroscar da saliva em toda aquele bolo alimentar que ia se formando. Confesso que todo este processo provocou alguma ambivalência em mim. Contudo, como bom empirista que sou, tal como todos os seres humanos, obviamente, voltei a dar uma trinca naquela beldade de fruto.

Pensei que estava algo errado comigo porque as minhas funções neuronais não estavam em convergência com os meus sentidos e, mais uma vez, fui vítima de publicidade enganosa. Que maçã de merda.

Inconformado, eu, cozinhei alguns pensamentos e fui concluindo coisas atrozes relativamente à minha e à nossa existência. Prontamente percebi que não tinha descoberto o fogo nem a roda e estou longe de ser um Charles Darwin, mas as conclusões a que eu cheguei, na manhã de hoje, ao olhar para uma Maçã Golden mordida duas vezes, foram deveras peculiares.

A nossa mente é perita em nos direcionar para pensamentos, sejam eles bons ou maus, dependendo da filosofia de vida de cada um ou das suas vivências, que condicionam o nosso viver. O Ying e o Yang. O certo é que nós nunca nos preparamos para receber, como informação de retorno, a verdade. A esperança de um cenário previsível, bom ou mau, conduz-nos a um estado de apoteose, mesmo antes de saber qual será o resultado de qualquer pensamento ou ação que tenhamos, como se estivéssemos constantemente a ouvir o rufar dos tambores.

Nós nem sempre fomos assim. Obviamente que não sou a pessoa certa para falar sobre outros tempos, mas se unirem pensamentos comigo e imaginarem uma vida sem acesso nenhum à informação, – entenda-se informação como tudo aquilo que recebemos diariamente, desde conhecimento, notícias, publicidade ou redes sociais – apenas com a influência do meio envolvente, iríamos ser mais pragmáticos e deixaria de haver a necessidade para criar verdades alternativas, tudo com o objetivo de querer ser aquilo que nós na realidade não somos. As pessoas devem ser elas próprias e não uma imitação da utopia.

Urge, em muitas pessoas, a necessidade de replicar por gemiparidade, com uma codificação genética igual à de outrem e, esquecem-se que aquilo nos torna seres únicos são as nossas idiossincrasias e todas as falhas genéticas que no moldam.  Não sou hipócrita e sei que ninguém quer ser um outlier numa sociedade de valores estratificados e estereotipados, queremos estar dentro do padrão. Mas há o padrão e a Moda (estatística), estes dois conceitos, encontram-se e diferem entre si com uma enorme naturalidade matemática. Assim deveriam ser estas criaturas bípedes.

Quero pensar que ando a morder as maçãs certas e que não vivo em realidades alternativas, compostas por ilusões e desilusões. No essencial, e sem muita investigação científica, as pessoas procuram afetos e relações, mas, por ignorância, andamos a procurar afetos e relações de forma deficiente e no sítio errado. O nosso contexto atual explica esta vida perante o Espelho de Ojesed, mas não pode servir de justificação para a nossa inércia de viver.

Eu acabei por comer a maçã toda, não porque sabia bem, mas porque sempre me ensinaram a comer tudo até ao fim e, mais importante, porque a maior parte das pessoas escolhe a fruta visualmente apelativa, independentemente do seu conteúdo ou sabor e come.

 

Sinceramente

Stero

Comentários

Mensagens populares deste blogue

A culpa não é tua. Mas é.

Tu não percebes nada.