A Ignorância torna tudo perfeito (V)


(V) Se só falta o resto, não resta nada.

Tudo tem um fim. Porquê? Concretamente, ninguém sabe responder. Existe uma frequência de acontecimentos vividos num determinado espaço de tempo, que, de forma lúcida nos fará refletir acerca de um intervalo temporal, entre o princípio e o fim. Há quem chame a isto experiência. Eu não gosto desta palavra, porque a ela está vinculado um conceito de idade e sabedoria, que mediante a ideologia filosófica, poderá ser boa ou má. Este fenómeno, de múltiplas vivências, não permitirá desvendar o motivo que levou ao fim de algo, mas ajudará ou condicionará, as decisões em vivências idênticas.

Nós somos seres emocionais e racionais, de acordo com a nossa conceção. Mesmo que não admitamos, vivemos em constante estado de reciprocidade, embebido num princípio de Ação-Reação. Esperamos sempre que a outra parte reaja segundo um conjunto de ideias pré-definidas, normalmente impostas pela sociedade. Raramente esperamos que a informação de retorno seja negativa pois, achamos, que merecemos sempre mais e melhor do que os outros. Como dizia George Orwell, “todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais do que outros”.

Quando toca às relações amorosas, tudo deixa de fazer sentido. Existe uma bolha que nos deixa enclausurados num vórtice, que corresponde a nada e a tudo. O problema disto é que não sabemos como entramos e, para piorar, não sabemos como sair. A nossa ganância sentimental aprisiona-nos em algo, em bruto, que supostamente, deverá ser moldado, reconstruído e polido, de uma forma que ninguém sabe como. Eu acredito que é um fenómeno desta natureza que leva ao desespero para iniciar relações amorosas e permanecer em cativeiro relacional, até que a toxicidade emocional atinja níveis insuportáveis.

Isto não é uma batalha de morte contra o amor e os sentimentos. Não tem como não sentir saudade e curiosidade em relação ao sentimento relatado por outros. Falo por mim, é mágico e inexplicável. É tudo o que os filmes nos mostram e muito mais porque, efetivamente, sentimos. É a electricidade estática, é a pirotecnia é o acasalamento de olhares, é a ingenuidade e a magia. Se assim não fosse, a nossa raça estaria em vias de extinção. Se calhar alguns espécimes deveriam estar já extintos.

Até mesmo nas relações esporádicas, há sempre um sentimento que nos move e nos faz sentir prazer, para estar com outra pessoa. As necessidades emocionais não são suprimidas apenas pelo amor incondicional. Ninguém pode esconder que, no momento certo, um “comia-te” sussurrado ao ouvido, faz toda a diferença nas emoções de uma pessoa.

São as nossas vivências emocionais que ditarão até que ponto investiremos numa relação e, até que ponto, desistiremos da mesma. Não existem unicórnios em todos os ranchos, apenas em alguns e, nesse sentido temos que ter a capacidade de racionalizar o nosso pensamento. Existem pessoas certas nos momentos certos, pessoas certas nos momentos errados e pessoas erradas nos momentos certos. O que não pode existir é uma mistura de tudo isto, caso contrário vivemos só com restos, com pontas soltas e imaginações de possíveis relacionamentos. Em cada uma das três situações, o importante é haver um aproveitamento total, das circunstâncias e, que as partes, no final, sintam que valeu a pena aquele momento ou instante.

Indubitavelmente, precisamos de alguém. Isto não significa que esse alguém seja o centro de todas as nossas vivências, mas alguém que nos acrescente e complete.  Assumo que tudo seria mais fácil se a primeira bebedeira fosse a última, o primeiro cigarro fosse o último e, mais importante que tudo, o primeiro amor fosse para sempre.

Parte de mim desejaria que não tivesse vivido o que vivi. Saber que existe muito mais do que aquilo que consigo ver, limita e condiciona todas as minhas ações, porque sei que para vivências idênticas existem diferentes desfechos.

A vida seria perfeita se, involuntariamente, eu fosse ignorante.

Delicadamente,
Stero

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