A Ignorância torna tudo perfeito (II)
(II) Quando tudo é Magia
Enquanto
crianças, imaturos, crescemos com sentimentos genuínos. Aqueles sentimentos que
são semeados pelos nossos pais e familiares. A nossa ingenuidade permite uma
absorção quase completa e um entendimento de todo aquele misto de calor,
alegria e conforto, como um dado adquirido. Na verdade, isto acaba por durar um
tempo considerável. A parte mágica de sentir reciprocidade relativamente a tudo
o que nós fazemos e sentimos, aumenta-nos o ego e acalenta todas as fibras do
nosso corpo.
Tudo
isto começa a ficar interessante quando passamos do elo vinculativo da família,
para começar a introduzir elementos estranhos no nosso ecossistema emocional. A
linguagem, os cheiros, o toque e a capacidade de nos entender, determinará quem
irá tatuar e transformar todo o nosso ser e, depois de ultrapassar a parte
imposta pela sociedade, de indiferenciação do género, começam a surgir as
sensações estranhas.
Lembro-me
da primeira vez que me senti apaixonado. Não é fácil explicar. É tudo como
magia. De repente, só consegues pensar em uma pessoa, não entendes porquê, mas
depois sentes o cheiro, prestas atenção no seu sorriso e ficas hipnotizado com
o seu olhar. Nada como uma boa paixão repleta de ingenuidade. Tudo é novidade,
tudo é bom, e melhor ficará se for correspondido. O estar envergonhado e corar
apenas por sentir a presença da Deusa Afrodite, desperta sensações que o comum
mortal, pela primeira vez, não está preparado para gerir.
A
simplicidade de um sentimento que, naquela altura, não podia ser corrompido.
Uma comunicação de olhares e passagens, propositadas, perto um do outro. O
início de uma relação que começou sem nenhum de nós saber como. Um “Olá” mais
forte do que mil dedicatórias de amor ou auxiliares tecnológicos.
Recordam-se
como foi pegar na mão dela pela primeira vez? Eu sim. Que sensação mais
estranha e simultaneamente agradável. A minha mão, ainda virgem de todos os
toques, sentiu uma energia eletrizante que percorreu todo o meu corpo, chegando
ao olhar que, imediatamente se colou ao olhar dela. Foi uma metamorfose
perfeita de um desejo mútuo expressado, apenas, no toque de duas mãos e
consumado com o acasalamento do nosso olhar.
Foram as
coisas simples, ingénuas e verdadeiras, desta relação desprovida de qualquer
corrupção, que permitiram o seu crescimento até ao primeiro beijo… fantástico. Pirotecnia
do melhor que há no mundo. Obviamente que nem tudo é uma história de príncipes
e princesas com um guião sem falhas. Mas, aquele primeiro beijo, apesar de
estarmos rodeados dos nossos amigos curiosos, aconteceu num momento só nosso.
Estávamos num vácuo sentimental, onde o tempo parecia parado e tudo à nossa
volta apresentava-se como um borrão multicolorido, que pouco interessava para
aquele momento a dois.
As
minhas mãos estavam na cintura dela, a desejar pela sua proximidade. Os seus
braços estendidos ao longo do corpo, demonstravam algum pavor devido ao
desconhecimento daquilo que iria acontecer. Eu não era nenhum expert na matéria, mas ainda assim levei
a minha mão ao rosto dela, levantando-o ligeiramente, de modo a que os nossos
olhares se fixassem um no outro. Os seus olhos fecharam-se com ternura, como
que a me dar permissão para avançar. Assim foi. A pirotecnia que eu falei há
pouco, é redutora para descrever o que realmente foi sentido naquele momento em
que os nossos lábios se tocaram.
Os
grandes momentos não podem ser fabricados, nem me arrisco a dizer que podem ser
construídos. A ideia de amor à primeira vista acaba, também, por ser um pouco
difusa. Recuso inteiramente a ideia de aprender a amar alguém, é demasiado ambíguo.
Mas como explicar esta sinergia de comportamentos amorosos e esta energia
estática que faz arrepiar todos os milímetros de pele do nosso corpo?
Continua….
Delicadamente,
Stero
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