Imagética




Como já é sabido (se não é, devia) nós, seres humanos, temos a capacidade de pensar. Esta faculdade permite-nos criar e recriar coisas, momentos e situações que poderão ser positivas ou negativas. Serão positivas quando, como consequência do pensamento, conseguimos alcançar tudo o que foi idealizado. Serão negativas quando o que foi pensado acaba por exceder expectativas, transportando o nosso imaginário para uma espécie de sonho constante, que nos impede de ver e viver a realidade.

A imagética tem estas duas vertentes. Ora vejamos, se num jogo de futebol, antes de ser cobrada uma falta perigosa, o jogador pensa e imagina qual será o seu movimento em relação à bola, como irá efetuar o remate, que trajetória a bola vai seguir e, por último, onde a bola vai entrar, estão previstos, pelo menos, dois cenários: é golo ou não. Estaremos preparados mental e emocionalmente para estes dois desfechos? Ou seja, quando pretendemos alcançar determinado objetivo, delineamos as estratégias mais adequadas para o sucesso. E para o fracasso? Não será também necessário?

Nós crescemos formatados para o sucesso e, dizem-nos, que é preciso trabalhar mais, ser mais focado, querer ser mais e acima de tudo arriscar. Porque quem não arrisca, não petisca. Se transportamos isto para as relações humanas, podemos pensar no seguinte cenário: rapaz conhece rapariga, de forma fortuita. Não há qualquer tipo de similaridade e reciprocidade entre ambos. Contudo, um deles (pode ser o rapaz) faz imediatamente um flashforward relativamente a uma possível relação com a aquela rapariga. A partir desse momento, se não houver discernimento mental, para gerir a situação, tudo o que sejam interações, por mais pequenas que sejam, irão fazer com que o rapazinho trabalhe mais, seja mais focado e queira arriscar. Começa aqui a bola de neve. Se não houver nada mais do que possíveis interações e imaginação de cenários, começa-se a entrar numa espécie de mundo virtual, onde já se alcançou tudo aquilo que partiu do nada mas, que devido à nossa capacidade de pensar deixa-nos à beira de um precipício, entre a realidade e o sonho.

Há uns anos consideráveis atrás as pessoas teriam que usar a sua mente para ser criativas e criar novas invenções, em que tinham que viver para saber realmente como imaginar a vida. Nos dias que hoje correm quase nem precisamos sair de casa, para conseguir experimentar a maior parte das vivências e emoções. O fluxo de informação é tão grande, que o nosso cérebro quase nem precisa “trabalhar” para criar as ditas imagens mentais, acabando por nos iludir, quase que nos obrigando a viver num constante estado de Imagética.

É importante ter visão. É importante ser pró-ativo e criativo. É importante ter a capacidade de imaginar e pensar mais além do nosso tempo. Mas se tudo isto não tiver uma aplicação prática, se não for vivido, se o rapaz não passar tempo com a rapariga e não se conhecerem mutuamente, tudo não passará de um borrão na nossa cabeça e tudo será uma tentativa falhada de viver.

A vida só faz sentido se for para ser vivida.

Sinceramente,
Stero

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